terça-feira, 5 de março de 2013

Como chegamos aqui?




















Tenho observado que dentre as conquistas no que tange a promoção da igualdade racial no país, muitas vezes não conseguimos levar as coisas a termo. Estamos sempre em embate direto com inúmeras pessoas, classes e representações populares que questionam nossos direitos, repreendem nosso discurso, criam teorias sempre recheadas de alusões a méritos e outras retóricas racistas e ultrapassadas. Em contra partida, nas ruas e nas redes sociais observo com muita satisfação o quanto nos movemos em direção a afirmação de nossa raça, ao conhecimento histórico de nossas raízes, e seguimos dizendo em voz alta ou em negrito: SIM, SOU NEGRO, SOU LINDO, E QUERO RESPEITO!
É um novo movimento? É um novo momento? Mas até quando iremos resistir nesta luta diária de afirmação? Quando poderemos simplesmente seguir em frente, tocar a vida, deixando a quem de direito cuidar de nossas questões legais e sociais? 
A criação da SEPPIR é uma conquista histórica, fantástica, que agrega pessoas e projetos em prol de uma causa. Mas a SEPPIR foi criada pelo governo Lula, pelo PT, e dependeremos sempre da vontade política da Presidencia da República para que ela continue existindo. Um exemplo? São Paulo e seu governo do PSDB estão criando mecanismos separatistas, que considero como ferramentas de exclusão, e lançando como 'alternativa' as cotas. E aí? Dependemos ou não de vontade política?
E onde é que nós podemos, de fato, influenciar estas decisões? 
Vejo que a criação da SEPPIR é o sonho sonhado por muitos, mas que pode sim acabar. Não estou aqui fazendo propaganda político partidária pela manutenção do atual governo. Mas não podemos pensar que quem determina, questiona, amplia, cerceia, defende, propõe e fiscaliza não tem peso! Estou falando de mandato parlamentar. Se não fortalecermos candidatos REALMENTE comprometidos com nossas questões, e isto nas esferas municipais, estaduais e federais, não teremos a representação que queremos. O Brasil hoje multiplica em seu cenário político criaturas infames como o deputado Marco Feliciano, o guanidina santa de Israel que nos diz amaldiçoados, as bancadas religiosas neo pentecostais, Jair Bolsonaro e sua prole, pseudo intelectuais racistas, sociólogos de boutique... Esta é a representação política que queremos? 
Precisamos conquistar, e não retroceder. Se hoje conquistamos espaços no poder público, que eles não sejam vistos como benesses dos governantes. Esta não foi a proposta do grande Abdias do Nascimento. Muito provavelmente, aqueles que sempre mantiveram o jogo político em suas mãos podem (e vão) manipular os espaços 'gentilmente cedidos' ao povo preto, dizendo sim ou não aos nossos projetos, sem jamais mergulhar em nossa realidade.
Não podemos ficar a mercê destas situações. Temos sim que direcionar o jogo, através do voto. Eu quero viver em paz, quero que minha cor não seja o tema que permeia minhas atitudes por luta, mas por amor. Quero ser dignamente representada por políticos que sejam comprometidos com a minha raça. Quero que meus filhos se preocupem menos com isto. Mas, antes, eu quero reabrir este debate, para que a gente retome esta construção que o movimento negro tão bem iniciou no Brasil há décadas atrás. 
Foi assim que a gente chegou aqui. Este foi o caminho. E não podemos pensar que esta caminhada já chegou ao fim. Isto é só o começo...

Andrea Tinoco

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