Porquê Cuba? Dos Faraós Egípcios a Chico Buarque de Holanda.
Por Marcelo Paes de Oliveira
Um Blog de Cabo Frio apresentou um texto usando Stalin, Fidel, e Raúl
Castro para detonar Cuba por conta da visita da blogueira. Confesso que
pensei algumas vezes se devia ou não, ainda uma vez mais, escrever,
sobre este tema, afinal, as acusações ali divulgadas são as mesmas
feitas há mais de 50 anos pela mídia conservadora e capitalista.
Neste devo ou não devo, decidi por um equilíbrio, ou seja, um texto que
elucidasse alguns véus com relação ao conceito do que me parece ser a
história.
Neste sentido, quero, basicamente, dizer que há
várias histórias. Dentre elas, uma é a história de tempos muito
pretéritos, como o Egito dos Faraós, por exemplo. Esta história é
construída a partir dos achados arqueológicos, dos documentos
descobertos, das decifrações de antigas escritas, e coisas assim. Ela já
não move as sociedades contemporâneas, suas paixões já foram dissipadas
pelo tempo indelével e inexorável. Portanto, tudo o que ali está é o
que mais se aproxima da verdade, pois já não é mais preciso proteger a
descendência de ninguém que esteja vivo, bem como já não há chance de
uma ou outra versão mudar o curso o presente das sociedades.
E
há a história contemporânea, que interfere com o nosso presente, e que,
por esta razão, pode mudar o curso de muitas sociedades. Afinal, esta
história é fruto de embates que ainda hoje repercutem na formação dos
estados, e que podem atingir descendentes de alguém ou mesmo a
maturidade de pessoas que durante a juventude tomaram uma ou outra
atitude. É por isso, por exemplo, que a Constituição brasileira garante
que Roberto Carlos impeça a publicação de uma biografia sobre ele, pois
há ali fatos da sua juventude que ele não quer ver revelados.
Esta história tem também as suas guerras, porém, diferentemente das
guerras promovidas pelos Faraós egípcios, estas guerras, ainda hoje,
espargem os seus resultados. E estes resultados têm influência direta em
muitas tomadas de posições. Nestas batalhas, como sempre, há vencedores
e vencidos, e a história, nestes momentos, é contada pelos vencedores.
A batalha entre o mundo socialista e o mundo capitalista foi vencida
pelo segundo, e obviamente é ele, o mundo capitalista, consumista e
conservador, quem conta a história que lhe interessa. É por isso que um
site como o Wikileaks faz tantos estragos, e eles, os vencedores, querem
levar o fundador do site, sr. Julian Assange, aos tribunais. Porque ele
publicou documentos que não podiam ser publicados. Documentos que eram
secretos, que eram dos vencedores e que, por isso, não podiam sair. Não
podiam sair para não influenciar negativamente a história destes
vencedores. Este mundo capitalista, que fala tanto em liberdade de
imprensa, quer matar o Julian Assange porque ele usou as prerrogativas
desta tal liberdade. Ocorre que esta liberdade era só para atacar por
todos os flancos os vencidos, nunca para desmoralizar os vencedores.
Sendo assim: CALE-SE O JULIAN ASSANGE! BLOQUEIEM-SE AS CONTAS DO
WIKILEAKS! PRENDAM ESTE SEU FUNDADOR! É isto que está gritando este
sistema que tanto apregoa a liberdade de expressão.
Ou seja,
nesta história que estou falando vale a versão. E ela é temperada
obviamente por alguns documentos, mas tão somente aqueles que
interessem à versão que se pretende contar, não os demais. Os outros, os
que podem produzir um conhecimento diferente, estes ficam escondidos, e
uma ação como a do Wikileaks é fato mais raro do que se ganhar cinco
vezes seguidas, sozinho, na Mega Sena.
Pois bem amigos, oque eles
dizem há cinquenta anos? Que Cuba não presta e Stalin era um crápula.
Esta é uma versão. Os que falam esta versão gostam também de dizer que
John Kennedy era o queridinho da América, o mais popular dos
presidentes: o homem jovem, bonito, para quem Marylin Monroe cantou
“Happy Birthday” (ele inclusive teria a beijado) e que foi cruelmente
assassinado pela máfia.
Os donos desta versão não contam,
entretanto, que Kennedy foi o homem que iniciou a guerra do Vietnã, que
se reuniu com a máfia para planejar a invasão de Cuba em 1961, invasão
esta para derrubar uma revolução de amplo apoio popular. Não contam que
com essa mesma máfia, ele contratou um exército de mercenários para a
invasão e que, também, de forma evidentemente mafiosa, decidiu, em
determinado momento, abandonar esta máfia que o levara ao poder (e com
quem ele tramara tantas ações), para se dedicar ao glamour de um
emergente mundo corporativo americano, passando então a negociar com os
grandes conglomerados econômicos e não mais com os seus “primos” da
“Cosa Nostra”. E que por este fato, evidentemente, como em toda Máfia
que se preze, foi, digamos, exemplarmente justiçado com um balaço no
meio da cabeça.
Esta parte da história eles não te contam. Como
também não contam que foi a Rússia de Stálin que provocou a grande
derrota de Hittler na segunda guerra, e que Stálin fez um pacto de não
agressão com Hittler exatamente para ganhar o tempo necessário de
transformar o seu parque industrial em um parque de indústria bélica.
Pois ele sabia que Hittler pretendia tomar a Europa, e sabia que devia
se armar contra isso. Pois a Rússia, desde Napoleão, todos queriam.
Ainda mais no século XX, quando o mundo soube que ela estava sobre
bilhões de litros de Petróleo. Eles não te contam que a partir deste
momento, do momento em que a Rússia abre espaço para a vitória dos
aliados contra Hittler, ela se transformava no grande adversário do
capitalismo, a ponto do Presidente americano declarar ao fim da guerra
que eles haviam matado a lebre errada. Fatos como este explicam a
política do “Wirtschaftswunder”, que fez com que os Estados Unidos
enchessem a Alemanha Ocidental de dinheiro apenas para barrar o avanço
do mundo socialista e assim não perderem o mercado europeu.
Aliás, muito interessante foi a resposta do Presidente grego à Angela
Merckel, Presidente da Alemanha, que, não agüentando mais a crise grega,
perguntou irônica e rispidamente o que mais a Grécia queria. E ouviu
como resposta que a Grécia queria apenas o mesmo que a Alemanha havia
recebido ao final da Segunda Guerra, bilhões e bilhões de dólares, e o
perdão das suas dívidas junto aos credores. Credores estes que incluíam a
própria Grécia. Sim, amigos, porque os países europeus abriram mão dos
seus créditos junto a uma mega devedora Alemanha apenas para que se
barrasse ali, por interesses do capitalismo, o avanço do mundo
socialista. E hoje, esta Alemanha perdoada de outrora, tenta tratar com
mão de ferro aqueles a quem outrora devia muito e que por ela abriram
mão desta dívidas, como a Grécia..
Enfim, perdoem-me o extenso
texto que talvez de nada adiante, pois quem sou eu para brigar contra a
retórica de 50 anos deste sistema perverso e cruel? Mas foi o que me
ocorreu escrever para dizer apenas que entre a história contada pelo
William Bonner, e a história que eu vi com os meus próprios olhos, como
em Cuba, que entre a filosofia de autores como Fukuyama e Milton
Friedman, e a filosofia de autores como Hobsbawn, Gramsci, Marx e tantos
outros, que entre a história que eu ouvi cantada nas músicas ufanistas
de cantores comprometidos com a ditadura brasileira, e entre as músicas
que ouvi cantadas por Chico Buarque e Taiguara, que entre os livros de
base histórica escritos por Guilherme Merquior e Merval Pereira, e os
livros de base história escritos por José Saramago, e Garcia Marques e
que entre as poesias escritas por Augusto Frederico Schmidt e as poesias
escritas por Pablo Neruda e Bertold Brecht (que tem belos poemas), eu
prefiro acreditar em Hobsbaw, em Garcia Marques, em José Saramago, em
Gramsci, em Marx, em Pablo Neruda em Chico Buarque, e nos meus próprios
olhos.
Por isso, Cuba Sim!
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