domingo, 3 de março de 2013

Porquê Cuba? Dos Faraós Egípcios a Chico Buarque de Holanda.


Marcelo Paes de Oliveira Por Marcelo Paes de Oliveira
 Um Blog de Cabo Frio apresentou um texto usando Stalin, Fidel, e Raúl Castro para detonar Cuba por conta da visita da blogueira. Confesso que pensei algumas vezes se devia ou não, ainda uma vez mais, escrever, sobre este tema, afinal, as acusações ali divulgadas são as mesmas feitas há mais de 50 anos pela mídia conservadora e capitalista.

Neste devo ou não devo, decidi por um equilíbrio, ou seja, um texto que elucidasse alguns véus com relação ao conceito do que me parece ser a história.

Neste sentido, quero, basicamente, dizer que há várias histórias. Dentre elas, uma é a história de tempos muito pretéritos, como o Egito dos Faraós, por exemplo. Esta história é construída a partir dos achados arqueológicos, dos documentos descobertos, das decifrações de antigas escritas, e coisas assim. Ela já não move as sociedades contemporâneas, suas paixões já foram dissipadas pelo tempo indelével e inexorável. Portanto, tudo o que ali está é o que mais se aproxima da verdade, pois já não é mais preciso proteger a descendência de ninguém que esteja vivo, bem como já não há chance de uma ou outra versão mudar o curso o presente das sociedades.

E há a história contemporânea, que interfere com o nosso presente, e que, por esta razão, pode mudar o curso de muitas sociedades. Afinal, esta história é fruto de embates que ainda hoje repercutem na formação dos estados, e que podem atingir descendentes de alguém ou mesmo a maturidade de pessoas que durante a juventude tomaram uma ou outra atitude. É por isso, por exemplo, que a Constituição brasileira garante que Roberto Carlos impeça a publicação de uma biografia sobre ele, pois há ali fatos da sua juventude que ele não quer ver revelados.

Esta história tem também as suas guerras, porém, diferentemente das guerras promovidas pelos Faraós egípcios, estas guerras, ainda hoje, espargem os seus resultados. E estes resultados têm influência direta em muitas tomadas de posições. Nestas batalhas, como sempre, há vencedores e vencidos, e a história, nestes momentos, é contada pelos vencedores.

A batalha entre o mundo socialista e o mundo capitalista foi vencida pelo segundo, e obviamente é ele, o mundo capitalista, consumista e conservador, quem conta a história que lhe interessa. É por isso que um site como o Wikileaks faz tantos estragos, e eles, os vencedores, querem levar o fundador do site, sr. Julian Assange, aos tribunais. Porque ele publicou documentos que não podiam ser publicados. Documentos que eram secretos, que eram dos vencedores e que, por isso, não podiam sair. Não podiam sair para não influenciar negativamente a história destes vencedores. Este mundo capitalista, que fala tanto em liberdade de imprensa, quer matar o Julian Assange porque ele usou as prerrogativas desta tal liberdade. Ocorre que esta liberdade era só para atacar por todos os flancos os vencidos, nunca para desmoralizar os vencedores. Sendo assim: CALE-SE O JULIAN ASSANGE! BLOQUEIEM-SE AS CONTAS DO WIKILEAKS! PRENDAM ESTE SEU FUNDADOR! É isto que está gritando este sistema que tanto apregoa a liberdade de expressão.

Ou seja, nesta história que estou falando vale a versão. E ela é temperada obviamente por alguns documentos, mas tão somente aqueles que interessem à versão que se pretende contar, não os demais. Os outros, os que podem produzir um conhecimento diferente, estes ficam escondidos, e uma ação como a do Wikileaks é fato mais raro do que se ganhar cinco vezes seguidas, sozinho, na Mega Sena.
Pois bem amigos, oque eles dizem há cinquenta anos? Que Cuba não presta e Stalin era um crápula. Esta é uma versão. Os que falam esta versão gostam também de dizer que John Kennedy era o queridinho da América, o mais popular dos presidentes: o homem jovem, bonito, para quem Marylin Monroe cantou “Happy Birthday” (ele inclusive teria a beijado) e que foi cruelmente assassinado pela máfia.

Os donos desta versão não contam, entretanto, que Kennedy foi o homem que iniciou a guerra do Vietnã, que se reuniu com a máfia para planejar a invasão de Cuba em 1961, invasão esta para derrubar uma revolução de amplo apoio popular. Não contam que com essa mesma máfia, ele contratou um exército de mercenários para a invasão e que, também, de forma evidentemente mafiosa, decidiu, em determinado momento, abandonar esta máfia que o levara ao poder (e com quem ele tramara tantas ações), para se dedicar ao glamour de um emergente mundo corporativo americano, passando então a negociar com os grandes conglomerados econômicos e não mais com os seus “primos” da “Cosa Nostra”. E que por este fato, evidentemente, como em toda Máfia que se preze, foi, digamos, exemplarmente justiçado com um balaço no meio da cabeça.

Esta parte da história eles não te contam. Como também não contam que foi a Rússia de Stálin que provocou a grande derrota de Hittler na segunda guerra, e que Stálin fez um pacto de não agressão com Hittler exatamente para ganhar o tempo necessário de transformar o seu parque industrial em um parque de indústria bélica. Pois ele sabia que Hittler pretendia tomar a Europa, e sabia que devia se armar contra isso. Pois a Rússia, desde Napoleão, todos queriam. Ainda mais no século XX, quando o mundo soube que ela estava sobre bilhões de litros de Petróleo. Eles não te contam que a partir deste momento, do momento em que a Rússia abre espaço para a vitória dos aliados contra Hittler, ela se transformava no grande adversário do capitalismo, a ponto do Presidente americano declarar ao fim da guerra que eles haviam matado a lebre errada. Fatos como este explicam a política do “Wirtschaftswunder”, que fez com que os Estados Unidos enchessem a Alemanha Ocidental de dinheiro apenas para barrar o avanço do mundo socialista e assim não perderem o mercado europeu.

Aliás, muito interessante foi a resposta do Presidente grego à Angela Merckel, Presidente da Alemanha, que, não agüentando mais a crise grega, perguntou irônica e rispidamente o que mais a Grécia queria. E ouviu como resposta que a Grécia queria apenas o mesmo que a Alemanha havia recebido ao final da Segunda Guerra, bilhões e bilhões de dólares, e o perdão das suas dívidas junto aos credores. Credores estes que incluíam a própria Grécia. Sim, amigos, porque os países europeus abriram mão dos seus créditos junto a uma mega devedora Alemanha apenas para que se barrasse ali, por interesses do capitalismo, o avanço do mundo socialista. E hoje, esta Alemanha perdoada de outrora, tenta tratar com mão de ferro aqueles a quem outrora devia muito e que por ela abriram mão desta dívidas, como a Grécia..

Enfim, perdoem-me o extenso texto que talvez de nada adiante, pois quem sou eu para brigar contra a retórica de 50 anos deste sistema perverso e cruel? Mas foi o que me ocorreu escrever para dizer apenas que entre a história contada pelo William Bonner, e a história que eu vi com os meus próprios olhos, como em Cuba, que entre a filosofia de autores como Fukuyama e Milton Friedman, e a filosofia de autores como Hobsbawn, Gramsci, Marx e tantos outros, que entre a história que eu ouvi cantada nas músicas ufanistas de cantores comprometidos com a ditadura brasileira, e entre as músicas que ouvi cantadas por Chico Buarque e Taiguara, que entre os livros de base histórica escritos por Guilherme Merquior e Merval Pereira, e os livros de base história escritos por José Saramago, e Garcia Marques e que entre as poesias escritas por Augusto Frederico Schmidt e as poesias escritas por Pablo Neruda e Bertold Brecht (que tem belos poemas), eu prefiro acreditar em Hobsbaw, em Garcia Marques, em José Saramago, em Gramsci, em Marx, em Pablo Neruda em Chico Buarque, e nos meus próprios olhos.

Por isso, Cuba Sim!

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