A terra prometida
Maria Alice Rezende de Carvalho
Diversos
projetos abolicionistas invadiram a cena política brasileira no último
quarto do século XIX. O de André Rebouças foi um dos mais radicais.
Talvez por isso tenha acabado derrotado.
Mulato, baiano, filho de um membro proeminente da elite política
imperial, Rebouças aclimatou-se desde muito cedo à vida na corte.
Formado engenheiro militar aos 22 anos, dedicou-se à modernização de
portos e à construção de estradas, para dotar o Brasil de
infra-estrutura compatível com a chamada Segunda Revolução Industrial,
que mobilizava a imaginação técnica de duas jovens nações emergentes:
Estados Unidos e Alemanha. No entanto, frustrou-se em sucessivas
iniciativas para a modernização material do país.
Sua vida foi reanimada pelo abolicionismo. Era o primeiro movimento de formação de opinião no Brasil, e a ele o engenheiro e empresário emprestou toda a sua energia. Dedicado a compreender os mecanismos que emperravam o desenvolvimento do país, chegou à conclusão de que vivíamos um bloqueio estrutural para a emergência de indivíduos livres. E que a libertação dos escravos, por si só, não seria suficiente. Entendia a abolição como um primeiro passo, ao qual se seguiria uma necessária eliminação do monopólio da terra, pois a autonomia individual só seria possível com a transformação do ex-escravo em pequeno produtor independente. Era este, para Rebouças, o único caminho de libertação dos homens pobres do campo, pretos ou brancos, ex-escravos ou imigrantes.
Sua convicção resultou em diversas propostas, como a do imposto territorial progressivo. No entanto, como os outros liberais brasileiros de seu tempo, ele temia que uma revolução agrária e popular resultasse em guerra civil. E assim viu cancelado seu projeto de refundação nacional. A partir de meados dos anos 1880, passou a considerar que somente o imperador poderia dirigir o processo de libertação dos escravos e uma eventual reforma agrária. Por isso, quando D. Pedro II é banido, Rebouças conclui que não tem mais o que fazer no Brasil, e opta por exilar-se na Ilha da Madeira.
Suicida-se em 1898, convencido de que a civilização brasileira, tal como a da Grécia antiga, se extinguira. Com a diferença de que, por aqui, ela sequer florescera.
MARIA ALICE REZENDE DE CARVALHO é professora do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) e autora do livro "O quinto século. André Rebouças e a construção do Brasil (Rio de Janeiro: REVAN, 1998)
Sua vida foi reanimada pelo abolicionismo. Era o primeiro movimento de formação de opinião no Brasil, e a ele o engenheiro e empresário emprestou toda a sua energia. Dedicado a compreender os mecanismos que emperravam o desenvolvimento do país, chegou à conclusão de que vivíamos um bloqueio estrutural para a emergência de indivíduos livres. E que a libertação dos escravos, por si só, não seria suficiente. Entendia a abolição como um primeiro passo, ao qual se seguiria uma necessária eliminação do monopólio da terra, pois a autonomia individual só seria possível com a transformação do ex-escravo em pequeno produtor independente. Era este, para Rebouças, o único caminho de libertação dos homens pobres do campo, pretos ou brancos, ex-escravos ou imigrantes.
Sua convicção resultou em diversas propostas, como a do imposto territorial progressivo. No entanto, como os outros liberais brasileiros de seu tempo, ele temia que uma revolução agrária e popular resultasse em guerra civil. E assim viu cancelado seu projeto de refundação nacional. A partir de meados dos anos 1880, passou a considerar que somente o imperador poderia dirigir o processo de libertação dos escravos e uma eventual reforma agrária. Por isso, quando D. Pedro II é banido, Rebouças conclui que não tem mais o que fazer no Brasil, e opta por exilar-se na Ilha da Madeira.
Suicida-se em 1898, convencido de que a civilização brasileira, tal como a da Grécia antiga, se extinguira. Com a diferença de que, por aqui, ela sequer florescera.
MARIA ALICE REZENDE DE CARVALHO é professora do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) e autora do livro "O quinto século. André Rebouças e a construção do Brasil (Rio de Janeiro: REVAN, 1998)
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