quinta-feira, 13 de junho de 2013

Eu já vi o Rio assim...



Eu já vi o Rio assim.
Eu tinha 15, 16, 17, 18, 20 anos... Eu estava lá, para pedir providências pela seca no nordeste, para ver Lula e Brizola discursando. Eu me arrepiava, me emocionava, bebia naquela fonte. Eu ouvi Abdias, suas palavras nortearam minha militancia.
Eu fui cara pintada, eu pedi impeachment, eu gritei Diretas Já!
A gente gritava palavras de ordem, a gente cantava, a gente chorava junto.
Líamos. Líamos muito. Não havia internet. A gente se indignava, e tirava a bunda de casa para protestar. E éramos muito, muito jovens.
Não diferíamos em nada do que se espera viver na juventude: os points, os amigos, as farras, o namoro, a praia. Não éramos ETs. Só que crescemos ouvindo Legião, Capital, Paralamas, Barão. Haviam poetas entre nós. E íamos ao samba. E passamos a infancia ouvindo Alcione, Bezerra, João Nogueira, Clara Nunes, Elis, Cartola. Verdade. A gente se alimentava culturalmente de forma muito rica.
A escola pública era uma referencia. O salário mínimo tentava ainda dar dignidade mínima.
Não aceitávamos meias palavras, nem meias verdades. Éramos muito mais corajosos, a gente sabia que tinha alguma força, e ela era poderosa. Tiramos o playboy da presidencia. Foi muito foda.
E, de repente, tudo mudou.
Os anos foram passando, e a gente não conseguiu conter as coisas. E o salário mínimo deu vez a renda familiar. E os namoros perderam o glamour. E a escola virou uma fábrica de idiotas, onde não há conteúdo e professor apanha na cara. E a Valesca Popozuda virou referência. E as meninas foram engravidando cada vez mais cedo. E os meninos foram pegando em armas, sem jamais ouvir falar em ideologia. E a merda tá fedendo demais. Vivemos na guerra urbana declarada. E somos uns bananas. E os 'caras' estão fazendo  que querem, na nossa cara, e ninguém faz nada...
Podem me execrar, to nem aí, mas eu, Andrea Tinoco, estou feliz demais por estas manifestações no Rio e em São paulo. Nem tudo está perdido. Tem uma galera aguerrida, articulada, jovem, inteligente, que está dizendo: BASTA! Vai ter que quebrar muito ovo pra fazer essa omelete, mas essa chacoalhada está sendo uma beleza. Certamente, a esta hora tem muito vilão com medo de perder  moeda que garante a farra: o voto.
Sei que tem muito cara pintada que alcançou algumas metas pessoais, e que hoje está mais preocupado com o conforto de sua família. Natural. A idade faz isso com a gente. Chamam de maturidade, pra maquiar o conformismo. Eu já não aguento uma manifestação deste porte, a dor na lombar já não me deixa correr de meganha (quem aí lembra de chamar de meganha?).
Mas estou feliz, pois estas imagens me mostram que a gente está respirando, que tem uma juventude mais preocupada em mudar o mundo do que em 'causar' na academia.
E, o melhor da história: esses caras vão ter que recuar. A matilha está se unindo.
Imaginem só se eles soubessem que aqui em nossa região o papo é R$ 4,00...



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