“ Quero cotas iguais e não
diferentes! (…) Essa reparação já passou da hora, não desisto, pois eu
sou um negro quilombola. A força do Ilê nos conduz nessa trajetória.
Esse país aqui foi feito por nós, ninguém vai mudar ou calar a nossa
voz! (…)”
O trecho acima da música “A bola da vez” do Ilê Aiyê noticia
o sentimento do grupo “Revolta dos Turbantes”, formado por estudantes,
professores, fotógrafos, jornalistas, cientistas sociais, geógrafos
etc., sendo todos esses jovens e adultos negros*
participaram do último protesto sucedido no dia 20 de junho de 2013 na
cidade do Rio de Janeiro, em afirmação e reivindicação das pautas
de demandas da população negra local. Sensibilizados com a falta de
representação de pessoas nas últimas manifestações em favor das questões
que atingem essa população, um grupo de aproximadamente 200 pessoas
juntou-se ao mar de gente que cobria as quatro pistas de trânsito numa
extensão de 3,5 km da Avenida Presidente Vargas.
“Revolta dos Turbantes” formaliza o encontro entre jovens e adultos. Alguns desses, a exemplo de Adélia Azevedo, os fotógrafos Januário Garcia, José Andrade e do produtor audiovisual Umberto Alves, também foram às ruas durante o regime militar, protestaram a favor das Diretas Já e pelo impeachment de Collor,
em 1992. Esse encontro, consolidado no dia 20, foi político.
Inicialmente motivado pelos jovens, Júlio Vitor e Rodrigo Reduzino,
através do facebook e mais efetivamente no dia 19 em uma reunião
presencial sediada no pátio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IFCS/ UFRJ, Centro da
cidade. “Revolta dos Turbantes” caracteriza um encontro também
simbólico e estético, em que quase todos adornaram suas cabeças com
turbantes em valorização da ancestralidade africana. Do mesmo modo que
representa o grito pelas demandas da população negra, iniciado defronte à
Igreja da Candelária, onde velas foram acesas em memória dos jovens
mortos durante a chacina de 1993.
A lista de pautas exigidas, ao Estado e à
sociedade brasileira, espelha a invisibilidade de negros e a violação
de seus direitos nos mais diversos setores do país. Essas reivindicações
abarcam até mesmo os direitos fundamentais, ainda inexistes em algumas
regiões do país, como o acesso à saúde, educação e moradia digna. Entre
outras demandas específicas da população negra, como em apoio a PEC das
domésticas; contra o extermínio da juventude negra; pela demarcação e
titulação das terras de Quilombo e Indígenas; pela efetivação da Lei
10.639/2003 e 11.645/2008 que instituem o ensino da história africana,
afrobrasileira e indígena no currículo escolar; respeito às
religiosidades de matriz africana; pelo acesso à renda e ao mercado de
trabalho; contra a remoção de famílias em áreas onde há especulação
imobiliária; contra o Estatuto do Nascituro; pela desmilitarização da
PM; contra a redução da maioridade penal; pelo fim do racismo no SUS.
O fotógrafo José Andrade (Zezzynho),
também militante desde os idos do regime militar relembrou emocionado a
manifestação de 1988 durante o Centenário da Abolição,
em que foram impedidos de ultrapassar o monumento Pantheon Duque de
Caxias, localizado na Avenida Presidente Vargas. “Esse grupo de jovens,
que ordeiramente acompanhou toda a manifestação, com palavras de ordem
as quais de desejo e de desabafo sobre o sistema, deu essa resposta ao
atravessarmos o Pantheon”, conta. Disse ainda se sentir com a alma
lavada e a sensação de dever cumprido com a Revolta dos Turbantes.
Andrade citou alguns nomes dos que eram jovens naquela época e que se
fizeram presentes nessa última manifestação, a exemplo de Marcos Romão,
Januário Garcia, Adélia Azevedo, Spirito Santo, Aderaldo Gil, e mais
alguns outros que estiveram presente compartilharam esse momento.
Assim como os demais manifestantes que
coloriram a Avenida Presidente Vargas no início da noite do dia 20,
durante o ato da “Revolta dos Turbantes” foram entoadas as seguintes
mensagens, direcionadas aos demais manifestantes que lá protestavam por
causas específicas, não somente pelo direito ao passe livre:
" Eu não sou bunda, eu não sou peito! Mulher Preta pede respeito!""A polícia mata Preto!"
'O Estado mata Preto!"
"Quem não pula é racista!"
"Vem, vem, vem pra rua contra o racismo!"
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